links amarelos #1
minha seleção de setembro
Em tempos ideias, eu (uma designer expatriada), me sento com um lanchinho gostoso em mãos e passo horas em vadiagem digital. No final, me levanto com o bolso cheio de artigos, livros, filmes, músicas e outras coisas ainda sem lugar na taxonomia digital vigente. Os links amarelos são o creme de la creme dessa vadiagem, aprecie.
no mês de setembro temos: fé nas pessoas ✦ gente rica, mas especificamente as que acham que são pobres ✦ de que árvore eu colho essas frutas ✦ uma falazada sem fim sobre videogames
todo mundo é legal até que se prove o contrário
Para termos uma boa relação de troca de links — sim, é uma troca, você tem que deixar algum link ali embaixo pra mim, não tava sabendo não? — é importante saber que eu sou extrovertida, dou mais corda pra gente na rua do que eu deveria e quase nunca me arrependo. Queria dizer que isso é um talento, mas é só o que tende a acontecer.
Assistindo o casal do Ponto Azul cruzar a Europa de bicicleta, fiquei feliz com o quanto de gente legal eles estão encontrando por aí. Todas as interações subindo a positividade de um momento já tão especial quanto o que eles estão fazendo. Queria dizer que isso é sorte, mas é só o que tende a acontecer.
Quer provas? Tire quinze minutos do seu dia pra mergulhar nisso aqui.
as vezes provam o contrário
Sem saber quem é Tati Bernardi, li esse texto que a acusa de ter problemas de leitura (de mundo e de si mesma). Depois de ler o texto, abri meu YouTube e encontrei um conteúdo dela, um quadro com o título: Você Não Sabe O Quanto Eu Sofri. Aparentemente nem eu e nem você né, Tati. Se não souber quem é Tati Bernardi e não quiser descobrir, ainda leia o texto, é o desgosto na sua forma mais elegante.
E ele me lembrou que, por indicação dos meus ótimos amigos, eu ouvi o episódio do É Tudo Culpa da Cultura sobre Coisa de Rico. O antropólogo dono do podcast escreveu um livro sobre a elite brasileira e aparentemente todos eles tem um problema de não saber em que degrau estão e de não saber a diferença entre uma secretária de verdade e uma de mentira. Episódio hiper recomendado.
onde eu arrumo essas coisas
Muitas das vezes eu “arrumo essas coisas” andando pela internet como um bêbado, aquele que sai cutucando todas as pessoas na festa e acha tudo a coisa mais engraçada do mundo.
Nessa de sair clicando em tudo, eu faço caminhos como (respira fundo) descobrir que existe uma biblioteca de programação pra replicar os padrões visuais ensinados pelo Edward R. Tufte em The Visual Display of Quantitative Information, descobrir que essa biblioteca foi criada pelo Dave Liepmann, descobrir que ele escreve artigos e no meio de uns 12 achar um sobre medo que contém a citação do Cus D’Amato treinador do Mike Tyson (e solta):
Heróis e covardes sentem exatamente o mesmo medo. Heróis só reagem de maneira diferente.
E a andança valeu a pena, é uma bela citação.
Quando eu não ando pela internet como um bêbado, eu recebo algumas coisas no meu colo. Todos os algoritmos estão terríveis, a gente sabe, mas assim como um relógio parado, duas vezes no mês ele acerta. Dessa vez acertou me apresentando o Ando San com a música Dash Out.
E já que estamos com um instrumento na mão, vamos falar de Bad Feel Inc. do Gorillaz. Esse é o jeito de aprender a ouvir o baixo de uma música por mal, se quiser aprender por bem: ouça esse cover.
Quando eu não ando pela internet como um bêbado e nem recebo coisas no meu colo, eu esbarro nelas.
Numa visita desacreditada a exposição dos Anos 80 no CCBB, esbarrei numa TV antiga rodando o primeiro jogo 100% brasileiro a ser comercializado, o Aventura na Selva.
Degiovanni desenvolveu, nos anos 1980, os primeiros games brasileiros. Aventuras na Selva, que pode ser acessado e jogado através do
QR Codelink, teve uma versão posterior chamada Amazônia. Foi o primeiro videogame comercial brasileiro e o primeiro software com características de open source, em que qualquer um pode alterar ou acrescentar dados.
O jogo foi desenvolvido pra um sistema que não existe mais e lançado numa revista de informática. O motivo pelo qual você consegue acessar hoje esse jogo feito para um computador que não existe mais é um projeto de reescrita que fez ele rodar até ao lado da Fazenda Feliz na aba de jogos do Facebook. Você pode ler mais sobre o jogo e sobre o projeto.
E pra quem não entendeu o que quer dizer veicular um jogo numa revista, vou explicar pra que você não cometa o erro que eu cometi de achar que se tratava de mandar junto da revista um CD pra rodar no computador, isso só acontece em episódios futuros da humanidade. No momento em que Aventura na Selva saiu isso queria dizer expor o código do jogo pra que as pessoas digitassem em seus próprios computadores. Se não acredita, aqui estão as páginas do jogo na vigésima terceira edição da Micro Sistemas.






mais videogame, em teoria
Eu tenho uma relação filosófica com algumas coisas, leio e assisto muito mais sobre elas do que realmente faço a coisa. Uma delas é jogar videogame. Esse mês aprendi tudo que dá pra aprender sobre Hollow Night tendo passado apenas de 1 (um) boss.
Dessa vez, assim como em todas as últimas vezes que me aproximei desse assunto, vi alguém reconcluir que os jogos independentes são o que há e que ninguém aguenta mais jogos AAA — não, eu ainda não aprendi o que esses A’s querem dizer.
Enquanto o melhor que dá pra fazer com a franquia que definiu minha pré-adolescência (Call Of Duty) é um vídeo muito bom explicando o seu impacto no gênero de tiro, o melhor que dá pra fazer com um joguinho carismático e praticamente brasileiro como Celeste é desafiar todos os seus próprios limites de razão e sanidade.
Se você não sabe o significado da palavra speedrun, nem precisa pensar em clicar nesse último link. Mas ainda é importante pra mim que você saiba as palavras que aguardam quem completa a impossível jornada de Celeste:
É difícil de acreditar que acabou, não é?
É engraçado como a gente se apega ao sofrimento
Me promete que vai cuidar de você, tá bom?
Me promete, leitor?
e digo mais,
Esse mês o Valter Nascimento escreveu isso aqui:
O depressivo é, antes de qualquer coisa, um nostálgico preso numa caçada por algo que não existe mais. O moedor de carne da melancolia opera movido pela manivela da nostalgia.
Leia por conta em risco o seu texto Biscoito Passatempo.
E precisei escrever isso tudo pra perceber que é no mínimo estranho começar algo com amarelo no nome, no mês do setembro amarelo enquanto, mais que nunca, é posto a prova o quanto de amarelo eu consigo enxergar no mundo. Pra ninguém dizer que não contribuí com nada para essa causa, leve no seu coração as palavras de Rebecca F. Kuang em to rebehold the stars:
E se opondo a Platão está Aristóteles, para quem a alma não pode ser separada do corpo. Para Aristóteles, a alma é o verbo: a alma é para o corpo o que enxergar é para o olho. O florescer da alma está entrelaçado com as repetidas ações da vida, e como Aristóteles resume, até a mais simples planta sabe que há de virar o rosto para o sol.




